1995
– Não queria fazer isso!!! Não deu para frear!!! Ela apareceu do nada!!!
O desespero de Nio ao descer do carro era latente. Depois de algum tempo descobri que ele era um rapaz tímido, de aparência desajeitada e andar atrapalhado, mas sempre muito querido.
– Calma!!! Precisamos leva-la ao Pronto Socorro!!!
Willian me pega no colo e me coloca no banco traseiro do carro.
– O que aconteceu?! Ouço ao longe alguém perguntar antes de desmaiar.
Acordei num quarto de hospital, ao meu lado Nio e Karen.
– E ai tudo bem?
– Tudo, o médico falou que só você precisa apenas descansar um pouco, e esperar algumas semanas para tirar o gesso do braço e da perna. – Karen responde com muito carinho em sua voz.
– Queria muito me desculpar, mas não consegui frear o carro – Nio, fala passando a mão pelo cabelo.
– A culpa não foi sua, eu acabei não olhando para a rua ao tentar pegar a Bast ! – Bast é minha gata preta que vive fugindo, e muitas vezes me colocando em situações diversas.
– Amiga, você tem que descansar um pouco, fique tranquila que a Bast está em casa. E você ainda tem uma visita esperando para entrar.
– Quem?
– O Willian está desesperado.
– Não tenho nada para falar com ele!
Karen percebe que não quero mais tocar no assunto.
– Seu namorado me pareceu muito preocupado – Nio entrou na conversa.
– Ele não é meu namorado. Mas mudando de assunto qual é seu nome?
– Antônio, mas todos me chamam de Nio.
– Prazer me chamo Rilay, mas não conseguirei de dar a mão.
– O prazer é todo meu, pena que nos conhecemos em uma situação tão desagradável.
– Talvez como falava minha avó …. “Tem males que vem para o bem….”
Karen e Nio de despedem de mim e saem do quarto. Mais tarde fiquei sabendo que na sala de espera Willian estava desesperado mesmo, seu cabelo desalinhado, andando de um lado para o outro. Ismail que já nos conhecia a muitos anos tentava inutilmente acalma-lo.
– Sou o culpado.
– Rilay é maior de idade, meu amigo! Ninguém é culpado. E além do mais, ela já está totalmente fora de perigo. É melhor você ir para casa, comer um pouco, tomar um banho e vestir uma roupa limpa.
– Não…Não… Se você quiser pode ir, não se preocupe comigo.
Ismail está saindo e minha mãe está chegando.
– Como ela está? – Pergunta minha mãe.
– Não sei, a Karen está com ela.
– Foi grave ?
– Não se preocupe, ela é forte – Ismail entra na conversa para acalmar o amigo.
– Eu sei!
– Como o tempo passou em Willian , afinal faz 5 anos….
Nisso entram na sala Karen e Nio, Willian levanta-se do sofá – Como ela está?
– Fora totalmente de perigo. Nossa! Ela é uma mulher de guarra! – Nio responde.
– O que realmente aconteceu? – Minha mãe entra na conversa.
– Ela quebrou a perna esquerda e também deve uma batida forte na cabeça, por isso precisa ficar de observação, mas não foi nada de tão grave, ela precisa apenas de alguns medicamentos e repouso, em duas semanas já estará totalmente recuperada.
– Podemos vê-la?
– Agora mesmo, só não podemos demorar muito.
Willian vai para a porta do quarto, mas Karen o interrompe : – Ela não quer te ver! Dá um tempo para ela!
Minha mãe entra devagar no quarto e senta numa cadeira perto da cama. Vejo que Willian está logo atrás dela, nesse momento finjo estar dormindo.
– Não seria melhor e mais aconselhável, você ir para casa pelo menos para trocar de roupa, ela não quer você aqui.
– Eu já estou de saída, queria apenas ver como ela está – Sinto a mão suave de Willian no meu rosto, e mesmo lutando contra todas minhas forças sinto meu coração bater mais rápido.
– Você gosta muito dela, não é?
– Ela é muito importante para mim, pena que ela não percebe nem compreende tudo isso.
– Minha filha é muito inteligente, ela compreende muito bem tudo que está passando.
– Será? Às vezes acho que não.
– Acho melhor ir embora, antes que ela acorde.
Willian me dá um beijo no rosto e se despede de minha mãe. Na porta do hospital esbarra em um senhor, com mais ou menos 56 anos, alto , magro, de aparência muito estranha. Willian o olha por um segundo parecendo reconhecer aquele rosto de algum lugar, mas depois pede desculpas e vai embora.
Esse senhor entra no hospital e vai até a recepcionista: – Em que quarto está a moça que foi atropelada esta manhã? O nome dela é Rilay.
– No quarto 06 no final do corredor – Responde sem dar muita atenção.
O senhor sai meio mancando, abre a porta bem devagar, mas ao ver minha mãe acariciando minha cabeça, resolve não entrar. Sua cicatriz no rosto e suas vestes em tons escuros acrescenta em sua aparência um ar de mistério e sofrimento.

